sábado, 25 de dezembro de 2010

Os melhores discos azuis

Do jazz ele é o rei e a coroa ninguém lhe tasca. As gravações da Blue Note sempre foram de boa qualidade e as seleções musicais para a apresentações das casas da BN ainda melhores. Dos álbuns azuis de jazz está a par do Blue Train do John Coltrane. Grande disco. Neste Ballads & Blues encontrar-se-ão baladas diversas que um pouco fogem às canções frenéticas da fase "rock" de Miles. Por isso coloco na lista, como um dos dez mais azuis de todos os tempos! Destaque para I Waited for You, Yesterdays e How Deep is the Ocean.

 
Engraçado como os discos de prisão são tão bons. Este não foge a regra, os Cramps tem seu show, Johnny Cash seu lp country e BB. King, rei do blues, live in Cook County Jail.
A gravação é meio tosca, o audio é ruim, mas é lendário!
Destaques: Three O'Clock Blues/Darlin' You Know I Love You, How Blue Can You Get? e Every Day I Have The Blues.






O último disco em vida de Renato Russo remete a uma carta de despedida. Cru, melancólico, raivoso, simplesmente maravilho. Renato não conseguiu gravar os vocais devido à saúde debilidade, ficaram as vozes guias, quero dizer, o fiapo de voz. Mas é isso o que torna uma obra prima, pois se trata de um disco de entrega, o último suspiro, o melhor de todos. É possível traçar um comparativo se escutar a música primeiro de julho (1994) e depois as demais (1996). Fico feliz que o Legião tenha feito este esforço final, valeu a pena apesar de tudo.
Destaque para: todas.

A estréia do Weezer é demolidora. O disco é totalmente energia bruta em estado juvenil. Buddy Holly, Say It Ain't So e Undone -- The Sweater Song tocaram bastante na rádio e tv. Mas My Name Is Jonas, The World Has Turned And Left Me Here e Surf Wax America são arrasadoras também e não devem nada aos singles. Este disco de estréia é importante também pois tinha o (excelente) baixista Matt Sharp no rol dos músicos que tocaram no cd e, da mesma forma, foi uma época que o Rivers Cuomo abria espaço para a composição dos demais instrumentistas. Talvez por isso seja o melhor da discografia, nota 10.


Não foi um grande sucesso, mas mesmo assim compõe minha lista. Saindo um pouco da linha habitual do rock do Rage Against the Machine e do cd de estréia da banda, as músicas tem apelo mais melódio e calmo. Tavez não soe tão bem à primeira audição, mas depois, aos poucos, vai conquistando seu espaço. Mais tarde, não dá pra parar de ouvir.

Lançado em 2005, destaques para Be Yourself, Doesn't Remind Me e Out Of Exile.



O último disco do Baden de "inéditas" é o que você vê na capa: Powell & seu violão, assim mesmo, minimalista. Pouca percussão, pouca voz e nenhum canto. Muito bem executado, assim como a Tempestade do Legião Urbana, é seu cartão de despedida deste mundo. Vale muito a pena.
Destaque pra tudo.




O submarino é amarelo, mas a capa é azul. Lançado em 1999, traz o melhor do lp original, exceto pelas (ainda bem) faixas instrumentais do George Martin, ufa! A música Hey Bulldog ganhou uma nova mixagem, mas A Day in the Life foi excluída. Bem, pode ser encarado como uma coletânea da fase 1968 do Beatles, é 3x1, porque traz o suprassumo do Sgt. Peppers, do Magical Mystery Tour e do próprio Yellow Submarine antigo.

Destaque para todos os clássicos, exceto When I'm Sixty-Four (que eu acho meio chata).


Sem palavras, compre, pegue emprestado, grave, tatue, roube este disco! É o disco que veio pra sepultar o rock (ainda bem!).
A potência de Nervermind não está no som, mas no contexto. Não contextual, mas contestador. Pra mim, o melhor momento da música (ouço desde o lançamento até hoje), pois a afinidade celestial de 3 pessoas nunca antes na história desde... blá blá blá, a música fora tão colocada em sentimento tão bruto. Singelamente é o álbum que tirou o batom das paradas e colocou o pau no ouvido das pessoas (no pior sentido). Nunca se repetirá.


Rosenrot é uma coletânea de b-sides do album anterior Reise Reise. Em tese é um disco de "sobras". Mas não se poderia imaginar o quão maravilhosas eram essas sobras. Como um disco de 'lado b' não tem que necessariamente seguir um roteiro, a salada de sons fica a cada hora mais interessante. No mesmo espaço encontram-se a pop Benzin, o hino gay Mann Gegen Mann, a pesada Rosenrot, a balada Stirb Nicht Vor Mir e a flamenca Te Quiero Puta!. Fenomenal...


Por fim, o azul dos azuis.
O Faith No More deu início à suas atividades no começo de década de 80, mas foi somente com o vocalista Chuck Mosely que a formação do grupo se consolidou. Com Chuck foram lançados os discos We Care a Lot (85) e Introduce Yourself (87). Porém, devido aos vícios do vocalista, a banda o despediu e contratou Mike Patton no seu lugar.
Com Patton nos vocais a banda finalmente alçaria o sucesso com o disco The Real Thing (89). Porém a nova roupagem do FNM seria alvo de uma saraiva de críticas do vocalista do Red Hot Chili Peppers, Anthony Kiedis, que os acusava de imitação barata. Patton usava o mesmo cabelão que Kiedis, o Faith No More tocava o mesmo Funk Metal dos Red Hot Chili Peppers, ambos os vocalistas cantavam em rap e até os clipes coloridos se pareciam. Talvez a banda tivesse realmente percebido que era hora de mudanças. Angel Dust (92) veio então com o intuito de dar uma nova roupagem para o grupo.
Quando foi lançado, trouxe às rádios e tv's os hits Midlife Crisis, A Small Victory (minha favorita) e Easy. Mas a cereja do bolo ficou definitivamente com as composições que não emplacaram nas paradas de sucesso, como as bizarras RV, Malpractice e Crack Hitler, que abusavam de efeitos sonoros, colagens e embalos circenses. O som era muito inovador para os ouvidinhos comuns e por isso, talvez, não tenha caído no gosto do mercado. Mas não eram todas as músicas experimentações, existiam ainda as pop's Everything's Ruined, Kindergarten e Be Aggressive, embora nenhuma dessas faixas, assim como o disco em geral, trazia o vocal rapeado e a música funkeada dantes. Após Patton cortar as madeixas, cortou também os laços com o The Real Thing.
Angel D também apresentava um rock sem muita guitarra, como podemos ver nas músicas Land of Sunshine, Caffeine, Smaller and Smaller e Midnight Cowboy. O guitarrista Jim Martin detestou a guinada e sua participação autoral é quase nula, com exceção de Jizzlobber, sua única contribuição (mas mesmo assim, um ano depois já estava na rua).
A importância de AD deveu-se ao experimentalismo e à autenticidade que o cercou. As faixas mal são cantadas, são faladas. O baixo encontrava-se acima da guitarra. As letras eram agressivas demais para o padrão vigente à época, afora que é delicioso de ouvir, pois parecem várias bandas num cd só. Compreende um ineditismo inexistente no nosso século, as bandas hodiernas precisam ouvir os hinos deste disco, para talvez, quem sabe, saiam um pouco do bunda-molismo atual.
Às vezes é preciso perverter a ordem, mesmo que o custo seja alto demais.



quarta-feira, 2 de junho de 2010

Miles Davis -Doo-Bop (1992).

  Às vezes é impossível imaginar um artista que jamais tenha caído em algum tipo de decadência. Miles Davis não foge à exceção. Passou por quase todo tipo de declínio (físico, moral, financeiro...), exceto um! Exceto o mais importante: o artístico. Alguns podem me chamar de idólatra, mas não poderão dizer que estou errado. Miles Davis jamais lançou um disco ruim. O disco supramencionado até pode ser desconfortável para alguns, como também pode ser genial à pessoa ao seu lado. Não haverá unanimidade. E, aqui estou eu... para elogiar, ressaltar, exaltar, enaltecer, glorificar e por fim, louvar:



DOO-BOP, o disco que mudou minha vida.



Jazz praticamente não existia pra mim antes desse disco. Tudo era muito nebuloso, velho, teórico e chato. Mas não esse, não esse disco. Num dia aonde tudo já havia sido escutado, somente este CD restava no porta-luvas. Sem muito ânimo, coloquei-o. Daí em diante todo dia foi o dia mais importante. Tudo começou a fazer sentido, jazz não era mais chato, mas era desafiante; os improvisos, o sarcasmo, a despreocupação e a liberdade... ah liberdade! Finalmente havia entendido o jazz, jazz era livre!! Estava diante dos meus olhos, mas eu não enxergava. A partir daí, tudo virou jazz.



Miles, ao final da vida queria modernizar o seu som. O jazz há muito não reinava e nada era reinventado. Após ter perdido os anos 80 em sintetizadores e teclados, Davis juntou forças com um jovem produtor de hip-hop e começaram a trabalhar os sons das ruas. O som do baixo acústico passou a ser realizado por loops, a batida por samplers e pela primeira vez o jazz tocava o eletrônico e vice-versa. Mas o elemento humano, o trompete, o improviso, o calor e a liberdade estavam lá. Havia voz também para civilizar a selvageria das ruas, seus barulhos, seus incômodos... mas o trompete, o último trompete foi incrível. Miles estava velho, mas seu som era novo, as músicas eram novas, nada de releituras ou interpretações, mas somente as originais. Para mim, o melhor momento, pois havia o fogo da juventude, a ingenuidade, mas com uma clareza e o amadurecimento que só a idade poderiam lhe trazer.



Não comentaria as músicas, pois isso estragaria a epifania, mas como epílogo informo desde já de que o álbum é póstumo. Davis morreu durante a feitura (essa palavra existe, tá!) do disco. Duas músicas foram concluídas postumamente e há uma reprise também. Mas nada que macule esta grandiosa pequena obra de reinvenção.



Parte do jazz morreu junto com Miles Davis. Mas para onde ele seria levado caso tivesse vivido um pouquinho mais? Ou talvez o jazz ainda esteja aí, esperando o seu momento para ressurgir, com outros heróis, outros instrumentos e outras almas...



No epitáfio: Aqui jaz jazz

domingo, 2 de maio de 2010

Lemonheads - Creator (1988)







Muitos, assim como eu (que já foram geração emetevê), somente conheceram aquele Lemonheads que tocava a já manjadíssima Mrs. Robinson (do Paul Simon) ou "Into Your Arms" (Robyn St. Clare) lá pelos idos de 92, 93 e depois pra nunca mais se ouvir falar.



Bem, quando o Evan Dando passou pelo Brasil, eu estava assistindo o show do magnífico Pixies em Curitiba, por isso não deu tempo de vê-lo em São Paulo. Mas pelo que me falaram, não deixou saudade.



Um belo dia, resolvi adquirir aquela coletânea dos cabeças de limão (The Best of the Lemonheads: The Atlantic Years, 1998) e gostei muito do material off-mtv e off-radio. Assim, comecei a torrar uma grana com o restante da discografia.



Pesquisando pela internet (mais precisamente, na quadriloqüente[!] Wikipédia), descobri 3 discos que me faltavam para magnanimar-me indie: Hate Your Friends (87), Creator (88) & Lick (89).



Mas havia algo de estranho(!?), Lovey (90) diferentemente dos outros, já apresentava uma sonoridade um tanto anormal. A única cabeça conhecida fora o próprio ED, era o grande baterista David Ryan. Do resto, não conhecia ninguém!? Aliás, meu primeiro álbum, não foi a coletânea e, sim o “paralelo” Around. O Lovey continha algumas músicas que eu curtia no Around, mas só aquelas não tocadas ao vivo possuíam a tal ‘pegada’ anormal. Li'l Seed e (The) Door contiam frituras de guitarra muito distante do mundinho punk dos independentes. Aí eu fiquei conhecendo quem era T. Corey Brennan.

Mas tudo bem, não é deste disco que venho falar, voltemos aos três iniciais:

A novidade para mim, foi que, ao contrário do unilateralismo da figura do ED que eu estava acostumado, uma nova voz apareceu nestes álbuns. Alguém que até então eu ignorava. Descobri que o Lemonheads havia nascido dual, muito punk e extremamente mais criativo do que eu podia imaginar.



O Lemonheads nasceu em 1986 como The Whelps, formado por dois colegas de uma escola secundária em Boston (MA). O primeiro homem era o já conhecido Evan Dando, mas a novidade ficava pelo fato de haver também um segundo primeiro-homem: Ben Deily.

O engraçado disso tudo está no fato de que BD não era um bom cantor (hoje em dia já está melhor), não era o 2º guitarrista (até porque era o baterista) e não era o principal compositor. Mas, mesmo assim, havia algo de mágico no ar.

Comecei ouvindo o primeiro disco (Hate Your Friends), que nesta edição já incluía o primeiro EP (Laughing All the Way to the Cleaners, 86), com o baixista Jesse Peretz, que mais tarde se tornaria cineasta e diretor de vídeo-clipes (muitos inclusive do Foo Fighters). Algumas faixas ainda traziam o baterista Doug Trachten, mas este sumiu pela história.



Tudo o que eu posso dizer é que HYF é um prato-cheio para aqueles que cresceram ouvindo Bad Religion, Bad Brains, Ramones, Sex Pistols etc. O CD é mais puro e doce caldo punk e nada mais. Pois não espere nada com mais de 3 (3 minutos, 3 acordes, 3 refrões). ED e BD revezam nas composições, nos vocais, na bateria também. Tudo bem tosco e muito maravilhoso. Destaques para Glad I Don’t Know, Rabbit, Second Chance, Hate Your Friends, Ever e Sad Girl.



Porém, saindo da lógica natural, pulei o 2º CD (Creator) e fui direto pro 3º (Lick).

Lick é o que há de mais bizarro em toda a discografia. Teoricamente, o disco saiu à fórceps, mas saiu muito bom. São 5 inéditas (3 do ED e 2 do BD), 2 regravações e 2 takes do primeiro disco e um cover (Luka da Suzanne Vega).

O casting é quase o mesmo do HYF, com a diferença da entrada do Corey Loog Brennan na guitarra, fazendo as frituras à rock farofa e cantando em italiano (Cazzo di Ferro).

O saldo é positivo, mas depois desse Frankenstein, BD retirou-se da banda, prometendo processar o ED caso este cantasse alguma de suas músicas e descrevendo toda essa fase numa canção vingança (Blockout, cantada pelos Pods). PS: hoje em dia já está tudo bem entre eles. Destaques para: Mallo Cup, A Circle of One, Anyway & Luka.



Por último, pus Creator para tocar... Realmente esperava algo como uma continuação de HYF ou coisa que o valha, não sabia que daquele momento em diante, que este seria um dos meus CDs favoritos...



O Album

À primeira audição, sentia que este disco era especial. Como já havia dito, em tese, não haviam elementos extrínsecos que me levariam a acreditar que este era um dos melhores CDs da história. A capa não dizia nada, é bem sem graça. Na contra-capa a formação do primeiro disco, mas pelo menos com um baterista fixo (John Strohm, que tocava guitarra no Blake Babies e em outras da mesma cena).



Ao colocar o cd pra tocar no carro (comprei todos na galeria do rock pagando preços astronômicos) e o som da chuva e sinos entoavam o que eu estava para ouvir:



A primeira faixa, Burying Ground, é cantada pelo BD, bem como é também uma de suas composições. Na abertura é já possível reconhecer as sutilezas das músicas. Não mais o ritmo frenético do HYF, mas uma forma diferente de tocar, abafando as cordas, sussurrando as vozes e alterando a velocidade da canção várias vezes. É até um tanto sofisticado demais para uma banda até então “punk”. Mesmo a letra é diferente e aqui mais especificadamente encontramos uma estrofe de Emily Dickinson: "This is the Hour of Lead -- Remembered, if outlived, As Freezing persons, recollect the Snow -- First -- Chill -- then Stupor -- then the letting go --".

Como um degustador, este primeiro prato era o suficiente para minha inteira satisfação, mas havia mais...



Sunday é a segunda música do BD em Creator. Já mais no espírito pesado, encontramos aqui (bem de fundo, é claro) teclados (!!!)



Assim, quase sem pausa para respirar nos deparamos com a primeira canção do ED no disco (Clang, Bang, Clang, mais tarde regravada em Lovey com o nome Left For Dead). O ponto forte da música é a versatilidade e a rapidez do John Strohm como baterista de um disco só. É impressionante o domínio do instrumento que até então não era sua especialidade. A forma de utilizar os pratos ao invés da caixa destoa muito de toda a discografia do Lemonheads. É uma bela música para abrir um show.



Seguindo a porradaria, Out, pesada mas com uma pegada mais lenta, é a segunda música do ED no disco. Um excerto: “Digging deeper in the sand / Now the water comes up / Cut my finger on the years oh, years oh What can you do? / I'll remember you / He waits for you behind the years oh, years oh Let it go” e podemos nos deparar com um certo lirismo, um subjetivismo poético que começava a germinar aqui mas adquirirá a maturidade plena em It's A Shame About Ray (1992).



A quinta faixa (Your home is where you’re happy) é uma surpresa! Trata-se de uma balada escrita pelo Charles Manson (é, aquele da família insana que matou a atriz Sharon Tate). Parece que nesta época ED viajava pelo campo do satanismo e cultuava o tal Manson (que também foi regravado pelo Guns n’ Roses etc). A priori é uma baladinha bem inocente: Your home is where you’re happy / It’s not where you’re not free / Your home is where you can be what you are / As you were just born to be. Perfeito para um lobo em pele de cordeiro.



Falling, do BD, talvez seja a única música que realmente demonstre estarem ele e ED no mesmo disco. É aparente que estão sendo tocadas duas guitarras, pois até então pareciam duas bandas diferentes tocando no mesmo cd. Falling é rápida, suja e eficiente.



Em seguida já entra Die Right Now, a última música do ED no disco e talvez a sua melhor contribuição até aqui. Mais violenta do que média das suas composições, aqui o próprio não para de urrar Time!!! no refrão enquanto rola uma locução de fundo e depois um solo maravilhoso. Ficou pra história.



E dessa forma, na oitava faixa, o BD retorna quebrando o andamento distorcido de Creator com Two weeks in another town, cuja letra tem tom mais bucólico (e talvez seja o divisor de águas do álbum). A partir daqui quase todo o disco é seu, e foi aí que me surpreendi, pois este era o único cd em toda carreira do Lemonheads que não foi inteiramente escrito pelo Evan Dando, assim como não é ele quem conduz a batuta. É maravilhoso!



A nona faixa deveria ser a regravação de Luka (que posteriormente aparecerá em Lick); mas ao invés disso, a banda resolveu colocar um(a) cover do Kiss, Plaster Caster, que é bem engraçadinha e quebra toda a tensão que as músicas carregam. Cynthia Plaster Caster foi uma famosa groupie que fazia moldes de gesso dos pênis de suas conquistas (Morrisson, Hendrix, Gene Simmons [daí a “homenagem”]).



A décima canção Come to The Window traz um novo elemento que se tornaria o principal instrumento do grupo a partir de 1992: o violão. Não que a música seja uma balada, longe disso! Ainda há a crueza e a distorção das guitarras, todavia, tudo fica mais encorpado, mais melódico. Come to the Window é o exórdio do futuro som dos cabeças de limão iriam começar a fazer.



Em seguida, uma locução do filme Blade Runner anuncia a próxima faixa Take Her Down, que recupera a pegada enérgica das duas primeiras canções. A letra, como toda boa letra, deve ser tão pesada quanto sua música: Collector knows, forever lie /Acid in your throat, don't cry. Da mesma forma é mais elevada do que a media: “Fire on the ocean go / Sun is sinking far below / Glowing cold but always gone / Numb and flashing off and on / Dying in your heart…”. Nada como letristas literalmente “letrados”. Ben Deily é graduado em literatura na Universidade de Harvard desde 1994.



Postcard, a penúltima, à primeira vista, não morri de amores por ela. Parece-me que nem o Jesse Peretz gostou à época. Posteriori, comecei a apreciá-la e entender sua mensagem. Aqui sim, uma balada só ao violão e levemente teclados ao fundo. Hodiernamente esta letra seria considerada “Emo”.



E por fim, para encerrar este majestoso disco, a maravilhosa Live Without. A voz do BD não permite maiores escândalos, mas, mesmo assim, é possível ver que ele dá o sangue neste música. E é isto que faz a diferença, o sangue dado neste disco que quase matou a banda na turnê para divulgá-lo. Live Without é também a última faceta do JS como baterista e outrossim, mais uma vez abusa dos pratos no acompanhamento. A melodia segue a mesma orientação do lado B do LP, mas o diferencial aqui é o frescor, a ardência, a juventude, a garra que os 4 cavaleiros depositaram em Creator. Realmente a emoção e a qualidade das canções é ímpar, sendo Live without seu posfácio.



Dentro do encarte há uma foto da banda, na frente de uma tumba onde há o nome dos integrantes e o nome do disco Creator como epitáfio. Essa fotografia não carece de extensa interpretação, até porque é explicável de per si. O “Lemonheads” morreu neste disco, para posteriormente nascer como o “The Lemonheads”. À primeira vista não existe diferença alguma, mas há!



Posso até estar sendo redundante, mas o que há de mais belo em Creator é a sua força ingênua e juvenil. Uma banda que ainda não precisava cair nas armadilhas do mercado. Não precisava se dobrar para gravadoras ou fãs, tanto é que Luka sugerida pelo empresário foi recusada e substituída por Plaster Caster. Aqui somente entrou aquilo que a banda queria tocar e da forma como gostaria de tocar. Ainda assim, também é primoroso porque é disfuncional. São dois conjuntos no mesmo disco (um Split-cd), são ‘Lemonheads’ e ‘The Lemonheads’ tentando ocupar no mesmo espaço. Com o tempo o segundo engoliu o primeiro, mas para mim o primeiro deixou mais saudade. O segundo está por aí, periclitando, lançando um disco de covers, cometendo auto-plágios. Não que eu não tenha gostado dos últimos lançamentos, contudo tenho a sensação do “já ouvi isso antes”, como se fosse comida requentada.



Numa parte de Live without, BD canta: “New stars, old sky”. Novas estrelas num céu velho. É isso que tento trespassar com esta resenha. Porque acho que este Cd nunca recebeu a atenção que merece. Isto porque os clássicos normalmente não são grandes sucessos, mas são grandes em influenciar e mudar as pessoas. Podem modificar tendências deixando sua marca, embora não a sua assinatura.



Hate Your Friends é o início e Lick é o final. HYF é uma colagem de EP, mais LP mais o que sobrou no estúdio. Lick segue a mesma lógica, é música nova, com velha, mais regravação e cover. Creator é íntegro. Não existem outros músicos tocando além dos 4, Ben Deily, Evan Dando, Jesse Peretz e John Strohm.



Lovey? Lovey já é “The Lemonheads”, é Mercado, é Capitalista.

Creator? Creator é um kibbutz. É comunitário; saiu do esforço, suor e sangue de 4 pessoas esmerilhando seus instrumentos.



Creator é tudo o que a música precisa hoje e não sabe! Não importa o estilo, não importa se toca no rádio ou não (porque Creator não tocou), não importa se está na parada. O que importa é a força, a energia, a dedicação para fazer o melhor.



Creator é Do yourself. Creator diz: -Saia debaixo das asas da mamãe e do papai e faça você mesmo! Seja criativo, seja criador...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Série "Parece Ruim.. Mas é Bom" Capítulo I - King for a Day... Fool for a Lifetime


Talvez King for a Day... Fool for a Lifetime seja o disco mais obscuro do Faith No More. Com a saída do guitarrista Jim Martin, a banda perdeu muito em qualidade. Sem guitarrista fixo, o FNM acabou utilizando os serviços de Trey Spruance, da banda paralela do vocalista Mike Patton (Mr. Bungle).



Muitos dizem que é o pior da carreira do conjunto. Não discordo. Porém, por uma razão que até hoje não consegui compreender, é o CD do FNM que mais rodou no meu Player (?!).



Apesar da gravação tosca, poucos inspiradas e do afastamento criativo do tecladista Roddy Bottum, KFDFFL traz um sabor diferente a cada canção, uma métrica exótica e temas intrigantes.
Por não conter "hits", é difícil de enjoar. cada vez que se ouve, descobre-se um som singular, uma passagem não percebida, em suma, é para ser digerido aos poucos.

One-by-One:



A primeira canção "Get Out", composta por Patton, confessa tacitamente o tédio de ir adiante com uma banda sem rumo. É basicamente rock, bastante agradável.



"Ricochet", que se segue, teve até videoclipe com baixíssima rotação. Todavia, é bem legal porque cria uma clima de música "fácil" verso-refrão-verso, mas sem explodir. O clímax nunca vem e isso torna apetitosa sua audição. Às vezes é bom ser contrariado.



Uma grata surpresa é a estranha "Evidence". A pérola aqui é o acompanhamento que o guitarrista Spruance faz com o piano de Bottum, tocando ambos exatamente as mesmas notas. O clima soturno da canção gerou um bizarro videoclipe. Ótima pra motéis.



"The Gentle Art of Making Enemies" talvez seja a mais pesada. Bastante simples, provavelmente quem conhece bem a história da banda perceba a tentativa de Patton de transformar o FNH num novo Mr. Bungle. Não conseguiu, contudo deixou uma ótima música.



"Star After Death" é uma bizarra canção estilo standards do jazz. Particularmente gosto, pela quebra do clima que dá ao disco.



"Cuckoo for Caca" talvez seja a melhor das faixas. Patton explora bastante os vocais guturais bem acompanhado pelo baixista Billy Gould. Acho que jamais tocaria nas rádios (por isso é bom!).



"Caralho Voador", assim mesmo em português, é uma divertida tentativa de tocar bossanova. Não conseguiram, nem mesmo as frases em português são bem proferidas, porém dá pra se divertir: "eu não posso dirigir / e agora aparece / meu dedo enterrado / no meu nariz" Dá pra entender?



"Ugly in the Morning", apesar de ser um autoplágio de Cuckoo for Caca, é a última música "estranha". O destaque fica só pela bateria Mike Bordin (hoje na banda do Ozzy). Gosto dos falsetes.



"Digging the Grave", provavelmente a mais pop, não chega a atingir o status de "radiofônica", porém é muito boa. 4x4, bem rock n' roll e assoviável. A melhor participação de Trey como "músico de estúdio". Após "Digging..." toda experimentação é colocada de lado :( para ser recheada por um lado-b repleto de música pseudo-pop. A qualidade cai bastante.



Mais um momento Mr. Bungle, "Take This Bottle", tem estrutura de soundtrack. Defino como "boazinha", só.



"King for a Day", composta por todos os membros do FNM, é uma clara demonstração de enfado e desencontro dos músicos. O som é bom, mas é um pouco arrastado. Aqui fica a sensação de "disco gravado para cumprir contrato". E veja que não é o último!



"What a Day" e "The Last to Know" são duas dispensáveis que somente preenchem linguiça. Não sei o porquê, mas eu escuto (?!).



Meu CD terminava com "Just a Man". Muito parecida com as músicas anteriores, não chega a "salvar" o disco.



Todavia, o que se salva mesmo é o lado-A. Salva pela forma incomum que se apresenta. É bom, pois não é fácil, suave, bem tocado (na verdade é bastante amador). Mas traz desafios sonoros, dissonâncias, e incômodos. O saldo é positivo para quem não se contenta com o usual.



Aproveitem.